13 Reasons Why: Vamos falar sobre Cultura do Estupro? – PP Belas Artes

13 Reasons Why está de volta à Netflix e o trailer de lançamento da segunda temporada dá a entender que, após centrar-se na questão do bullying, o seriado avançará na discussão sobre o estupro. A esse respeito, convidamos a aluna Larissa Marchi, do 1º semestre de Publicidade e Propaganda da Belas Artes, para falar um pouquinho. Apreciem!

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13 REASONS WHY E UM DE SEUS PRINCIPAIS FOCOS: O ASSÉDIO SEXUAL

Colaboração de Larissa Marchi (1º semestre de Publicidade e Propaganda)

Nesta sexta-feira, 18 de maio, estreou a continuação de uma das séries de maior sucesso da Netflix: 13 Reasons Why.  Baseada no romance e best-seller homônimo de Jay Asher, a primeira temporada trouxe o drama de Hannah Baker (Katherine Langford) – uma adolescente que se suicida e deixa um pacote com várias fitas-cassete detalhando os 13 motivos que a levaram a interromper a própria vida. Um deles foi ter sido abusada sexualmente por Bryce Walker (Justin Prentice), personagem que abusou também de Jessica (Alisha Boe).

O trailer da segunda temporada mostra o armário escolar de Bryce com a palavra “rapist” (estuprador) pixada. Numa outra cena, uma fotografia sua com outra garota, onde se lê “Hannah não foi a única” também é mostrada, dando a entender que existe mais uma vítima do jovem. Mas, levando em consideração que Jessica decide revelar o abuso sofrido de fato só no final da temporada anterior, até por falta de coragem, o mais tenso no vídeo é quando fotos suas são expostas com a mensagem “Quem acreditaria em uma vadia bêbada?” num quadro da escola Liberty. Essa frase, que dentre algumas interpretações indica a dúvida da versão da vítima e até a certeza de impunidade por parte do abusador, remete-nos a um tema cada vez mais recorrente e comentado na atualidade: a cultura do estupro.

A cultura do estupro, basicamente, é um contexto que naturaliza a violência sexual. Podemos dizer, com absoluta certeza, que no Brasil – um país onde se ensina as pessoas a “evitarem serem estupradas”, ao invés de se educar para “não estuprar” – vivemos neste cenário. Cultura de estupro é culpabilizar e duvidar da palavra da vítima. É quando uma roupa sensual, andar sozinha na rua à noite ou estar alcoolizada se tornam justificativas para o injustificável.

Quando surgem casos de abuso sexual de grande repercussão nas mídias, é muito comum deparamos-nos com comentários do tipo “Ah, mas com aquela roupa, ela tava pedindo!” ou “Ela fica com vários. Se quer ser respeitada, que se dê ao respeito!”. Bom, é até bizarro ter que explicar isso, já que é algo tão óbvio, mas vamos lá: Não existe o famoso “Tá pedindo pra ser estuprada” pelo simples fato de que o estupro é caracterizado pelo NÃO consentimento da vítima, e se não há consentimento, não existe a menor possibilidade da mesma estar pedindo qualquer coisa, a não ser o RESPEITO. Embora pareça que qualquer ser racional seja capaz de entender a lógica, não é bem assim que as coisas funcionam na prática.  Se fosse, não teríamos dados tão tristes e extremamente preocupantes. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o mais utilizado sobre o tema, o Brasil registrou 1 estupro a cada 11 minutos em 2015. Assustador, né? E se levarmos em consideração que, em geral, calcula-se que isso seja somente 10% do total do que realmente acontece, chegamos a aterrorizantes 500 mil estupros por ano. Vale lembrar que qualquer prática sexual imposta por violência, ameaça ou sem consentimento de uma das partes, envolvendo penetração ou não, configura estupro.

Para melhor compreensão sobre o assunto, um caso recente: Na última terça-feira, dia 15, o G1 publicou uma matéria sobre a CPTM ser condenada pelo STF a pagar R$ 20 mil a uma mulher que foi molestada dentro de um trem, perto da estação Guaianases, na Zona Leste de São Paulo, em 2014Dentre os comentários da notícia, um deles ilustra perfeitamente a cultura de estupro tão presente no Brasil: “MANO TO COM MEDO, VAI VIRAR MODA!!!” É o comentário (infeliz) de um perfil masculino. Mesmo que não possamos ter a certeza absoluta de que realmente foi um homem quem comentou um absurdo desses, é difícil imaginar que uma mulher, que sabe o que é usar transporte público esquivando-se até de bolsas pra não encostar em ninguém (homens), tenha dito algo do tipo. Somente nós, mulheres, sabemos o que é ter que ficar sempre alerta naquele horário de pico, pensando em como não virar estatística quando aquele cara diz que tá muito perto de você porque o vagão tá cheio, mas se ele tivesse que ficar muito perto assim de outro cara, rapidamente se afastaria o mínimo que fosse. “Moda” é isso acontecer todos os dias. Nós, sim, precisamos ter medo!

Tanto o caso real da CPTM quanto o trailer da segunda temporada de 13RW refletem o motivo do número de denúncias ser tão irrisório diante de tudo que acontece. A versão a ser duvidada é sempre a da vítima. Como se não bastasse a vergonha, a sensação de impotência, nojo e até culpa a que é exposta, a vítima ainda tem sua palavra colocada em cheque, ficando à mercê da perspectiva de uma sociedade extremamente machista. Isso só desencoraja outras mulheres a denunciarem crimes como esses.

Acima de tudo, é essencial que todos, homens e mulheres, entendamos que em hipótese alguma a vítima é culpada. Compreender que a cultura de estupro existe e está enraizada em nosso país é o primeiro passo de um longo caminho para acabar com ela. Seu extermínio só será possível através de uma educação que liberte as próximas gerações das correntes do machismo e até da misoginia, da conscientização através das mídias, da punição de todos os agressores e, principalmente, do grito de todas nós. Que a vergonha e o medo se transformem em voz, e que esta ecoe para todos ouvirem que Hannahs, Jessicas, moças como a do trem e milhões de outras não vão se calar, e que se, assim como os impostos e a morte, a tal cultura de estupro é um fato, não queremos mais pagá-los e nem morrer. Respeita as mina!

 

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