Música independente ou alternativa? Veja a matéria de Daniela Santos Silva

Por Daniela Silva Santos

Desde a época do vinil, no início de 1948, todo músico sonha em ter suas próprias gravações divulgadas como um sucesso das paradas. A trajetória para que se chegue a um patamar igual ou maior do que bandas como Metallica ou Guns N´Roses é de muito trabalho e entrega. Hoje em dia ficou muito mais fácil produzir seu próprio conteúdo e diversos artistas trabalham como independentes das grandes gravadoras. Isso está ocorrendo pela facilidade dada pela internet ou com a dificuldade de se inserir no grande mercado musical? Como fica a ideia de música independente ou alternativa?

O site Music Non Stop afirma que 2016 foi o ano da música independente no Brasil, pela facilidade que as redes sociais e a internet em geral proporcionam a um extenso mercado, no qual quase não existe competição, uma vez que, na última década, a música independente vem sendo composta por bandas de diversas partes do Brasil, com públicos e gêneros diferentes.

Outro fator que também contribuiu para tal expansão foi a alta do dólar. Em 2015, no Brasil, houve uma baixa na quantidade de shows internacionais e a tendência de que isso ocorresse em 2016 também era alta, uma vez que o dólar bateu R$ 4,00, elevando os custos das despesas estrangeiras nas viagens etc. Neste contexto, grupos brasileiros ocuparam mais espaço em festivais e eventos fechados.
A Associação Brasileira da Música Independente (ABMI) entende por independente as empresas que detêm seu controle, ou seja, não estão vinculadas aos grandes grupos multinacionais da música. Este conceito surgiu por volta de 1929, a partir dos diversos selos e produtores musicais da época, como a Disco Popular e a Série Caipira Cornélio Pires.

Alexandre Dias, fundador do grupo Velhas Virgens, que é conhecido por ser uma das maiores bandas brasileiras independentes, pensa que “ser independente é ter o controle total da carreira e das atividades artísticas. Os envolvidos cuidam de tudo, inclusive do gerenciamento de negócios. Isso pode ser feito diretamente pelo artista ou em parceria com outros profissionais”.

Para Alexandre, a música alternativa pode ser independente ou não, “uma vez que não é por ser alternativo que não tenha espaço em uma gravadora. Claro que é mais difícil e as vendas são menores, mas pode interessar por conta de algum tipo de música específico que pode dar à gravadora prestígio junto a crítica”.

Mas como bandas pequenas, que estão começando neste ramo musical, veem essa questão de ser independente? As bandas Intocáveis e Metal Up Your Ass – Metallica Cover demonstram que é possível perceber que ainda persiste a ideia de que um grupo independente é aquele que consegue se bancar financeiramente, o que torna as coisas bem difíceis. Guilherme Telles, baterista da banda Metal Up Your Ass – Metallica Cover, confirma: “Bandas independentes basicamente não tem nenhum tipo de apoio financeiro para ‘bancar’ a sua produção. A cena independente se modifica muito no geral, no estilo do rock nem tanto quanto nos outros gêneros musicais. Falta incentivo às produções autorais e principalmente (e isso só ocorre no rock) falta reconhecimento do trabalho do músico. Tentar viver de música sendo independente e tocando rock no Brasil, hoje é suicídio”.

Atualmente, é possível ver cada vez mais bandas que surgiram do nada conseguirem se fazer presente neste cenário musical tão concorrido, quanto é o da música. “Então é legal quando você vê bandas como O Terno, que surgem assim ‘ah é legal ser diferente, então vamos ser´ e que acabam alcançando o público de quem gosta do que é diferente, e não é aquilo que todo mundo escuta. Traz um público que gosta para caramba de conhecer coisas novas”, diz Vicente Vianna, integrante dos Intocáveis.

É claro que não existe uma fórmula para fazer sucesso, mas as coisas acontecem mais rapidamente quando se tem um foco maior em seus objetivos, como fala o produtor musical da casa Augusta 399, Felipe Santana: “Entendo que ser bem-sucedido neste meio é ser reconhecido por todos que compõem o cenário como um artista com um trabalho sério, de qualidade, que, por meio de sua música, mude a vida de uma pessoa”.

O produtor acrescenta: “De qualquer modo, não acredito que exista uma fórmula pronta para se alcançar o sucesso. É claro que, se faltar empenho, dedicação e qualidade, o caminho até ele será um tanto quanto mais longo, mas realmente não acho que obter sucesso seja algo tão racional quanto dois mais dois são quatro”.

É certo que os meios de comunicações ajudaram este processo, pelo simples fato de possibilitar que bandas em qualquer lugar do mundo divulguem seus materiais e gravações para quem quiser ver e no momento que é oportuno para cada um. Só que nem sempre foi assim.
Dias conta: “Era na base do fanzine feito em casa (um tipo de jornal que a gente xerocava e distribuía), por fitas k7 e caixa postal. As cartas eram constantes. Em 1998, nós entramos de cabeça na internet e isso mudou nossa vida. Criamos nossa própria gravadora e saímos distribuindo, nós mesmos, os CDs e músicas, gerenciando nossos shows e de lá para cá temos feito um tour atrás do outro, sem tirar férias”.

Hoje em dia as coisas são um pouco diferentes. Além de disponibilizar seus trabalhos e criar páginas nas redes sociais, os grupos ainda têm como contar com o famoso ‘boca a boca’, que pode fazer com que consigam parcerias para produzir seus próprios EPs e CDs.

Sabe-se que o cenário musical independente é muito contraditório, uma vez que cada um possuí seu ponto de vista sobre o assunto. O músico Tiago Araripe contou no livro “Lado B – A produção fonográfica independente Brasileira”, não concorda com o termo independente, pois vê como uma atitude de quem quer suprimir o real, reinventando o mundo e imaginando-se viver numa dimensão à parte, alheio e imune ao sistema. Alternativo, o termo que ele prefere é na verdade o zelo pelo lugar que os músicos ocupam, propondo assim um novo espaço. Não porque estão à margem das principais gravadoras, mas estendendo essa ação à estética, à ética e à ideologia dos projetos.

O jornalista Marco Aurélio Canônico questiona: “Independente é quem não tem nenhuma forma de patrocínio ou de investimento de terceiros? Independente é qualquer coisa que não seja feita pelas majors? Independente é a Kuarup, o Chimbinha, do Calypso, ou um jovem que criou uma página no MySpace de sua banda e gravou um CD em casa? Enfim, sempre tenho uma certa dificuldade em delimitar o que seria o `cenário independente´, porque isso costuma ser tratado de forma vaga, abarcando modelos de negócios bem diferentes entre si”.

Fica claro que cada um tem sua própria visão sobre o cenário musical, seja ele independente ou alternativo. O que não dá para esquecer é que não existe um só meio para se atingir fama e sucesso.

A banda Velhas Virgens dá a dica: “Primeira coisa é usar e abusar do digital. Coloquem tudo o que puderem em canal do Youtube, páginas, Instagram etc. Use as ferramentas, coloque suas músicas a venda nas plataformas tipo Spotify, ITunes, entre outros. Não precisa gravar um CD, pode começar com singles. Lembre-se de que é importante testar a música, receber críticas faz parte do desenvolvimento. Gaste grana com shows. Esse é o seu produto, que só você pode mostrar, então aproveite. Perseverança e criatividade”!

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