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Revista on-line do Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.

No.7 – jan-mar / 04

sumário

  • Editorial
  • Cenários
  • Caminhos da humanidade...
  • Ecos da mídia
  • Eventos
  • Dicas de leitura
  • Moldura de nações
  • Recreio literário
  • Expediente

DATA VENIA é a revista eletrônica do Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. De periodicidade trimestral, seu conteúdo não necessariamente coincidirá com o pensamento da FEBASP, mantenedora desta Instituição, mas será de inteira responsabilidade dos autores que subscreverão suas respectivas matérias.
As colunas serão alimentadas pelos professores do Curso, contando-se também com a colaboração do alunado, da Comunidade Febaspiana como um todo, e apenas marginalmente, ocorrerá a participação de colaboradores externos à Instituição.

Além de divulgar as notícias relacionadas ao Curso, as matérias publicadas reportar-se-ão às sociedades nacional e internacional, através de textos inéditos e não muito extensos, acolhendo-se também material redigido nos idiomas inglês e espanhol.

O conteúdo divulgado em DATA VENIA pautar-se-á pelo balizamento ético e pluralismo das idéias, as quais autoriza-se sua reprodução por quaisquer meios desde que se mencione suas respectivas fontes.

Editorial

Por quem os sinos dobram

Há quase setenta anos atrás, o número estimado de mortos na guerra civil espanhola, ao longo de três anos (1936/39), remontou a um milhão de pessoas. Esse resultado, à primeira vista de longe suplanta as duzentas vítimas fatais da última tragédia ocorrida em solo madrilenho, em 11 de março último, mesmo adicionando-se as quase duas mil vítimas sobreviventes desse trágico episódio.

Entretanto, os registros midiáticos classificaram este recente ataque terrorista como o pior já acometido sobre a nação espanhola. Diferenças à parte, talvez isso se deva à imprevisibilidade (do ataque), à instantaneidade no número de vítimas inocentes, à escolha aleatória(?) das mesmas, ao fator surpresa ou à invisibilidade do(s) agressor(es), à insanidade de certos indivíduos ou agrupamentos de fanáticos religiosos, suas ilimitadas brutalidade e intolerância.

Afinal, quanto vale uma vida humana? Não sabemos calcular. Nem mesmo os economistas o sabem. E eis que se impõe a relevante distinção entre valor e preço. Portanto, uma tragédia é o que é, e não devemos mesmo qualificá-la pelo montante de suas vítimas, mas por suas causas e conseqüências, além dos impactos provocados.

Viver é muito perigoso, já dizia Guimarães Rosa. E nos dias atuais pior ainda, quando o perigo está em toda parte, quando o inimigo está presente, mesmo que não tenhamos inimizades; mesmo distante estando do inimigo do amigo, ainda assim sentimo-nos amedrontados, ameaçados, inseguros e atingidos.

Flagelos há cujos efeitos são instantâneos, efêmeros, alguns mais prolongados e já outros teimam em continuar. Nesse contexto, facilmente visualizamos, em cenários diversos, vitimados de enfermidades, da fome, da miséria e do atraso; da tirania, opressão e intolerância de certos governantes; da covardia e crueldade de agressores sem rosto e insanos; da insensatez e devaneios de alguns líderes, no papel de protagonistas e coadjuvantes.

A fatura a pagar por tudo isso é imensa e enquanto os espanhóis sepultavam seus mortos, já especulava-se quem serão as próximas vítimas. Ao invés disso, mais proveitoso seria discutir mecanismos impeditivos à efetivação de resultados decorrentes dessas especulações macabras.

Quem sabe um bom começo esteja na redução, quiçá eliminação do sofrimento de outros vitimados, a exemplo de afegãos, iraquianos, tchetchenos, palestinos, haitianos e tantos outros mundo a fora, incluindo-se até mesmo os inquilinos de Guantânamo.

A fome e sede de justiça, particularmente no mundo subdesenvolvido e em desenvolvimento, denota imenso passivo a ser saldado cujas perspectivas remotas e sombrias, nessa direção, são contributos à plataforma de atuação do terrorismo, cimentada ainda pelo fanatismo religioso.

Todavia, os instrumentos por ele utilizados e seus nefastos resultados são provas de que os fins justificam alguns meios, não todos, porquanto existem formas alternativas de luta, corroboradas ainda pela legalidade e legitimidade.

O apartheid social entre o Norte e o Sul não se estreitará apenas com democracia e livre comércio, mesmo porque a primeira não se impõe, conquista-se; já este último, precisa estabelecer um fluxo de mão-dupla, destravando a via que flui de dentro para fora e não apenas de fora para dentro, em prejuízo dos países do Sul, configurando mais peça de retórica a tão apregoada liberdade comercial, porquanto travada por subsídios, acordos bilaterais, dentre outras barreiras.

E a perdurar esse fosso mundial com sua injustiça, permanecerá também a insatisfação que por sua vez, incubará a intolerância latente a qual desaguará nas mais variadas formas de violência, ou seja, injustiça + insatisfação + intolerância = violência, e o ciclo recomeça, face à tendência reprodutiva desta última .

Assim, no produto dessa equação só há perdedores, pois os vencedores se encontram fora daquele resultado. No caso em tela podemos dizer que venceu a democracia. Venceram os eleitores espanhóis, ao praticarem a liberdade de escolha no exercício da cidadania. Felizes são aqueles com capacidade para fazerem escolhas.

Quem sabe esse resultado sirva de inspiração à mídia e também àqueles eleitores do outro lado do Atlântico que, em novembro próximo, terão a chance de escolher um mandarim a protagonizar a liderança na sociedade internacional.

Que a escolha recaia na direção do ideário multilateralista, mais sintonizado, portanto, com os rumos requeridos pelo atual ordenamento internacional, no qual americanos e europeus terão de se unir não apenas na dor, na tristeza e no luto, mas sobretudo nos esforços por um mundo pacífico e mais justo, sem o derramamento do sangue, suor e lágrimas de inocentes por quem os sinos dobram.

Raimundo Ferreira de Vasconcelos
Doutor em sociologia e mestre em economia política.
Coordenador e Professor do curso de relações internacionais,
no Unicentro Belas Artes de São Paulo.

Cenários

*Relações Internacionais – um Campo em Constantes Mudanças

O campo institucional das Relações Internacionais passa por um momento de grandes alterações e, principalmente, a partir dos anos 80 e 90 deixou de ser exclusividade dos diplomatas. De fato, as preocupações sobre a ordem internacional passaram a ocupar lugar destacado na agenda de amplos segmentos da iniciativa privada e da sociedade civil. Uma jovem estudante de Relações Internacionais da PUC/MG definiu com simplicidade e clareza a ampliação do campo de ação da área em questão quando declarou: ”desenvolver projetos sociais junto a organizações internacionais é fazer Relações Internacionais, mesmo não sendo diplomata, não estando no Itamaraty”. Em outras palavras, as Relações Internacionais estão diretamente vinculadas, por exemplo, à idéia de responsabilidade social. Nessa perspectiva, não é exagero sustentar que o campo das Relações Internacionais passa por uma verdadeira revolução (Rilton Pimentel, “Responsabilidade social compõe o novo perfil das relações internacionais”. site Aprendiz, 30/01/2003).

Nesse cenário de amplas e profundas mudanças, a oferta de vagas nos cursos de graduação em Relações Internacionais cresceu significativamente na última década, principalmente na cidade de São Paulo, o centro econômico e financeiro do país. Tal crescimento está relacionado diretamente ao processo de globalização e a sua conseqüência mais direta é a internacionalização da economia e a hegemonia do capital financeiro. Nesse contexto, a possibilidade de atuar numa área profissional que está na ordem do dia, seduz muitos jovens. Todavia, esses, muitas vezes, optam pelo curso sem ter o conhecimento mínimo sobre a área de conhecimento em questão, a matriz curricular do curso e sobre o mercado de trabalho. Assim, o principal objetivo do presente artigo é contribuir para o conhecimento das principais características do campo de atuação do graduado em Relações Internacionais.

I. O campo de estudos das Relações Internacionais

Como a História, as Relações Internacionais possuem a mesma expressão para designar o campo de saber e o objeto de investigação. Esse fato provoca não apenas dificuldades de expressão, mas reforça um certo ranço positivista contido nessa importante esfera da realidade contemporânea. Faz-se necessário recorrer a outros campos de saber para obliterar essa perigosa ambigüidade.

O conceito de campo foi sistematizado com mais rigor pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu. Segundo Bourdieu, os indivíduos se situam em diferentes posições dentro de campos de saber e profissional, ambos foram institucionalizados ao longo da modernidade. Em tais campos, os indivíduos assumem posições e tornam-se parte de um conjunto estável e definido de regras, recursos e relações socais. Como sustentou o sociólogo francês, todos os campos de saber e profissional têm a sua própria historicidade e um momento específico de institucionalização (Ver a análise do assunto em John B. Thompson. A Mídia e a Modernidade, Petrópolis, Ed. Vozes, 1995).

No que se refere à institucionalização do campo em questão, algumas vicissitudes parecem nítidas. As Relações Internacionais se estabeleceram como área de conhecimento independente, no início do século passado. Em outras palavras, o saber sobre a ordem internacional, os seus conceitos, categorias e regras que passaram a definir o estudo das Relações Internacionais como área de conhecimento específica, tem pouco menos de um século. Pois, o arcabouço teórico-metodológico foi estabelecido com mais clareza quando se encerrou a 1ª Guerra Mundial, em 1918. Naquele contexto, que o historiador britânico Eric Hobsbawm definiu como era do massacre, o objetivo fulcral dos diplomatas foi estabelecer um conjunto de regras que contribuísse para evitar a emergência de conflitos similares ao que ocorrera durante quatro anos e que dizimou a vida de aproximadamente oito milhões de europeus, destruiu boa parte do parque industrial e da economia do continente e liquidou a ordem estabelecida pelo Congresso de Viena.

O caminho delineado foi a tentativa de elaborar e consagrar princípios, normas e instituições capazes de regular e intermediar os litígios e conflitos de interesses por meio de negociações que tivessem como objetivo a sua resolução de forma pacífica e fundamentada no espírito cooperativo. Porém, a emergência dos regimes nazi-fascistas no Entre-Guerras (1918-1939), a crise da economia capitalista, em 1929, e a eclosão da nova guerra mundial, em 1939, contribuíram decisivamente para o fracasso dessa concepção de Relações Internacionais que passou denominada, não sem uma dose de menosprezo, de idealista e, concomitantemente, fortaleceu a percepção da ordem internacional através da interpretação que se autoproclamou realista.

Nesse quatro de redefinições da ordem internacional marcado pela eclosão e o fim da 2ª Guerra Mundial e a simultânea emergência da Guerra Fria teve como corolário o ocaso da ordem multipolar e a implantação da bipolaridade. Durante os 45 anos de vigência da Guerra Fria, a luta pelo poder e pela hegemonia passou a ser definida como o aspecto decisivo para a compreensão do comportamento dos Estados. Assim, o conceito de poder influenciou tanto os estudos, quanto à própria condução da política exterior pelos governos dos Estados-nacionais. A rigor, durante a Guerra Fria os temas relacionados às estratégias, ações militares, o equilíbrio de poder e a atuação dos Estados como atores principais no sistema internacional estiveram na ordem do dia.

Todavia, a partir dos anos 60 foi possível detectar uma ampliação na agenda de temas que preocupavam os estudiosos das Relações Internacionais como: a incorporação de novos atores ao campo de estudos, notadamente os tópicos relacionados ao desenvolvimento econômico, desigualdade social e o crescimento das organizações governamentais e não-governamentais; muitas dessas com atuação internacional. Nesse contexto, os estudiosos passaram a dedicar maior deferência não apenas às ações e interesses do Estado, como de suas respectivas políticas externas que levavam a cabo, mas a um sistema de referências mais amplo de tópicos, incorporado ao campo de investigação dos especialistas em Relações Internacionais, tais como: os processos decisórios, a atuação dos atores não-estatais e as novas formas de regulação e cooperação internacional.

III. Da bipolaridade para a multipolaridade

O fim da Guerra Fria em fins dos anos oitenta e início dos noventa propiciaram uma série de alterações no campo das Relações Internacionais. As questões relacionadas ao poder dos Estados, à sua capacidade de elaborar estratégias de ação, definir os seus interesses e a corrida armamentista foram colocadas em um plano secundário. A ordem internacional deixou de ser bipolarizada, avançou em direção ao multilateralismo e novas preocupações passaram a orientar o trabalho do profissional de Relações Internacionais.

Nesse contexto de mudanças, o Brasil passou a vivenciar novas perspectivas. A crescente internacionalização da economia contribuiu para aproximar, por exemplo, o Ministério das Relações Exteriores dos empresários nacionais. Esses em geral sempre foram historicamente aversos às questões de política externa. Porém, com a crescente internacionalização da economia, passaram a somar esforços no sentido de acompanhar atentamente o dinâmico cenário internacional, em especial os movimentos do comércio. Como demonstra Roberto Teixeira da Costa, presidente do conselho de administração do Banco Sulamérica e representante dos empresários brasileiros no Conselho de Empresários da América Latina, apenas nos últimos anos percebeu-se maior interesse dos empresários em discutir temas relacionados à inserção do Brasil no exterior, tarefa até então exclusiva dos agentes do Estado. Na visão do empresário em questão: “diante do quadro cada vez mais complexo, o Itamaraty, ainda que de uma forma não definida, busca um diálogo ampliado com o setor privado, para discutir uma pauta comum e até dividir responsabilidades”. Segundo sua interpretação, a Cúpula de Miami, realizada em 1994, contribuiu decisivamente para o estabelecimento de um diálogo mais afinado e freqüente entre empresários e governos. Diálogo que não apenas se faz necessário como indispensável para tornar os produtos de exportação nacionais competitivos (Costa, Roberto Teixeira da – “A política externa se aproxima dos empresários”. In: Carta Internacional, Ano VI, n. 59, jan. 1998).

No campo do saber, ao longo dos anos oitenta, ocorreu o aprofundamento do diálogo com as ciências e disciplinas afins. Assim, a ortodoxia que caracterizava essa área de conhecimento cedeu espaço para a emergência de uma percepção mais plural, multidisciplinar e transdisciplinar dos fenômenos presentes na ordem mundial no cenário do pós-Guerra Fria. O diálogo com outros campos de saber foi condicionado, em grande medida, pela maior complexidade da ordem internacional. Assim, nos últimos vinte anos a questão do desenvolvimento econômico e social, o meio ambiente e direitos humanos entraram definitivamente no campo de estudos das Relações Internacionais. Em outras palavras, o objeto de estudo ampliou-se: “a nova sociedade pós-industrial requer novos instrumentos, novas metodologias e instâncias institucionais que aperfeiçoem a diplomacia clássica e incrementem a qualidade das tarefas das missões diplomáticas”. As mudanças contribuíram para o crescente interesse sobre a ordem internacional e para as atividades desenvolvidas pelo profissional de Relações Internacionais. De fato, pode-se afirmar que no momento, tais estudos vivem um período que pode ser definido como auspicioso; marcado entre outros aspectos, pela revisão de antigos paradigmas e a elaboração de conceitos e categorias. Novos desafios são colocados para as Relações Internacionais, não apenas como objeto, mas como campo de investigação e atuação profissional.

IV. Perfil profissional: novos e velhos desafios

Qual a essência da diplomacia e dos diplomatas? Para Paulo Roberto de Almeida, estudioso do tema: “os diplomatas constituem, no plano da política externa, os ideólogos dos estados modernos. Eles estão sempre procurando soluções inovadoras para os velhos e novos problemas das Relações Internacionais, combinando propostas singelas de melhoria da situação mundial como o corolário e a expressão mais imediata dos interesses concretos de seus respectivos países”. Após as inúmeras e profundas mudanças na ordem internacional, relatadas acima, a sua função profissional principal passou a ser principalmente o processamento de informações. Assim, há pelo menos três grandes segmentos no qual esse profissional pode atuar: a) no governo (setor publico), em especial, na diplomacia, b) no mundo acadêmico, atuando como professor e pesquisador e c) no setor privado, cujas opções se renovam e se multiplicam (Almeida, Paulo Roberto de – Dez Regras Modernas de Diplomacia. IN: Revista Espaço Acadêmico, ano I, n. 04, set. de 2001).

A profissionalização no campo das Relações Internacionais tem avançado significativamente no Brasil. Tal avanço foi impulsionado principalmente pelas perspectivas oferecidas pelo mercado de trabalho na área. Há algumas décadas atrás, a perspectiva de atuação profissional ficava restrita ao campo diplomático tradicional. Porém, atualmente foram agregadas novas atividades como, por exemplo, a crescente necessidade dos governos de especialistas na área, com o processo de integração regional, notadamente após a criação do Mercosul e o aumento da mobilidade do capital, câmaras de comércio, consulados e embaixadas, as confederações sindicais patronais e de trabalhadores, as organizações não governamentais, assessoria técnica em organizações internacionais, órgãos de comunicação e a área acadêmica.

A diversificação das atividades delineia novos desafios, pois o profissional necessita possuir um conjunto múltiplo habilidades, tais como: ser capaz de pesquisar, ensinar, aconselhar, assessorar e executar. Nesse contexto, os cursos de graduação devem repensar constantemente os seus projetos pedagógicos, pois os discentes devem ser capazes de exercitar o censo crítico, identificar e avaliar cenários, adquirir capacitação técnica básica, desenvolver as suas capacidades de comunicação e de liderança, elaborar estratégias de ação, conhecer padrões, regras e procedimentos das principais organizações internacionais, conhecer e analisar tratados e acordos internacionais relevantes, compreender e propor intervenções e saber utilizar os conhecimentos adquiridos ao longo do curso. Para Paulo Roberto de Almeida, uma das dez regras da moderna diplomacia é ter um domínio total de cada assunto, dedicar-se com afinco ao estudo dos assuntos que esteja encarregado e aprofundar os temas em pesquisas paralelas. Como se vê, um conjunto amplo e diversificado de atividades.

Para finalizar, vale citar as 13 lições que devem ser seguidas, segundo Sérgio Danese, pelos diplomatas e pelos profissionais de Relações Internacionais. As lições são a rigor algumas das principais regras do campo das Relações Internacionais:

1. Confie, mas verifique.
2. Quem decide deve ouvir opiniões variadas e recomendações variadas e conflitantes, pois a pluralidade de sugestões enriquece a decisão a ser tomada.
3. Nunca negocie por medo, mas nunca tenha medo de negociar.
4. Em muitas ocasiões em que tudo parece exigir pronta e vigorosa ação, vale seguir o princípio: É urgente, esperar!
5. Quando estiver negociando, estabeleça quais são os seus objetivos reais e não procure ganhos adicionais que não têm haver com esse objetivo, correndo o risco de sacrificar toda a negociação.
6. Coloque-se sempre nos sapatos do seu adversário, de modo que você possa ver as coisas através dos olhos dele.
7. Nunca acue um adversário e sempre o assista para que possa salvar a sua face.
8. As decisões têm que ter uma base de legitimidade e não estar apenas respaldada pela força ou pelo artifício político.
9. As recomendações para o uso da força têm de ser testadas em todas as suas conseqüências e implicações e somente devem ser levadas em conta para adoção depois de esgotadas todas as demais opções.
10. Em qualquer caso, o uso da força não pode ser um blefe, nem um argumento puramente teórico.
11. Nenhuma ação se toma contra um inimigo poderoso no vácuo, isto é, é preciso sempre medir as conseqüências de sua ação.
12. Não tente comprometer publicamente o seu adversário, nem negociar com ele pela mídia, sem antes tentar convencê-lo privadamente e explorar ao máximo as suas razões e argumentos.
13. Finalmente, como disse certa vez Rio Branco: “Há vitórias, que não se comemoram.”

Assim, como sustenta: ”em política, como nas relações humanas não há substituto para a diplomacia. É falsa a afirmação segundo a qual, a guerra seja a continuação da política por outros meios, a guerra é o pior fracasso da política. Numa negociação não há outras opções fora da clareza de objetivos, a firmeza de voz, a frieza, a paciência e, em especial a sensibilidade para o poder, às razões e os argumentos do outro”. Essa dimensão ética e humanista deve ser a principal motivação para os jovens abraçarem o campo promissor das Relações Internacionais ( Danese, Sérgio- “As lições dos 13 dias de outubro”. IN: O Estado de São Paulo, jan. de 2000).

Sidney Ferreira Leite
Doutor em História e docente no curso de Relações Internacionais
do Unicentro Belas Artes de São Paulo.

*. Texto apresentado na Aula Magna proferida pelo Prof. Sidney Leite, em 03/02/04. Evento receptivo aos calouros e veteranos de relações internacionais, intitulado “Diplomatas, diplomacia e sua praxis: negociar é preciso”, tendo ainda como palestrante, o Prof. Gilberto Sarfati.

Ecos da mídia

Alguém é insubstituível. Será?

A velha máxima de que todos nós, pobres mortais, somos substituíveis, continua a ecoar pelas diversas organizações. De fato, é até relativamente fácil encontrar substitutos para os mais variados cargos e funções, admitamos. Todavia, o verdadeiro problema consiste em saber se o substituto está à altura do substituído. O que nem sempre ocorre, convenhamos. Mas também poderá ocorrer o inverso, ou seja, uma superação por parte do sucessor.

De qualquer maneira, há pessoas cujo modo de ser e de agir lhes confere certa singularidade, parecendo únicas. É o caso do saudoso Sérgio Vieira de Mello. Entenda porque com a leitura do oportuno texto publicado pela Folha de São Paulo, em 14/03/04, de autoria do embaixador brasileiro e Secretário-geral da UNCTAD, Rubens Ricupero, reproduzido aqui quase na íntegra por Data Venia.

Latas de lixo da história
Por Rubens Ricupero

Confrontado certa feita com tragédia parecida à do Haiti, Kissinger comentou que não havia nada a fazer, por tratar-se de caso desesperado, mais apropriado para a lata de lixo. O país em questão era Bangladesh, o maior dos LDCs, os Least Developed Countries ou Países Menos Desenvolvidos. É uma categoria da ONU que reúne os mais miseráveis e infelizes entre os pobres /…/.

São 49 nações, das quais 34 africanas /…/. Alguns /deles/ até que estão se saindo relativamente bem: Bangladesh – contrariando a profecia de Kissinger -, Camboja, Moçambique, Lesoto, Cabo Verde. Muitos, no entanto, sofrem de uma economia em retrocesso ou da crescente falência do Estado ou de ambos.

A Unctad /…/ identifica cinco indicadores para medir a regressão do sistema econômico-social: 1)crescimento negativo per capita durante cerca de dez anos; 2)mortalidade infantil; 3)índice diário de calorias por habitante; 4)taxa de crianças matriculadas em escolas primárias; 5)número de mortes por conflitos civis ou por Aids e doenças do gênero. Em fins dos 1990s, por exemplo, o Haiti acusava uma espantosa redução de 41% nas matrículas do ensino fundamental.

Com freqüência, a combinação desses fatores enfraquece tanto o Estado que ele já não é mais capaz de garantir à população os serviços mínimos indispensáveis: segurança pessoal, sistema judiciário, educação, saúde, água potável. É a falência do Estado, que pode chegar ao colapso quando o governo deixa de existir, quando ele perde o monopólio da coação legal, da polícia, da força armada e proliferam os bandos predadores e os “senhores de guerra”. É essa a situação vivida, há mais de década, pela Somália, país sem Estado.

Diante disso, não e possível olhar para o outro lado, como queria Kissinger. Quando se fez isso em Ruanda ou no Camboja, os resultados foram genocídios monstruosos de milhões de vítimas. Finda a invasão soviética e desaparecida a competição da Guerra Fria, o Afeganistão /…/ foi abandonado à própria sorte. Acontece que essa ma sorte /…/ acabou por atingir aos EUA e ao resto do mundo. O colapso do Estado e a indiferença externa levaram ao poder os talebans, criando a plataforma terrorista que iria explodir no 11 de setembro e mudar a história.

Se quisermos evitar que haja não apenas um mas dois, três, vários Afeganistão, o caminho e um só: o engajamento dos mais afortunados para, de saída, pacificar e, em seguida construir instituições que permitam administrar os conflitos, sem a violência da guerra civil e o extermínio dos perdedores. É uma vocação ou especialidade nova e difícil, na qual a vantagem comparativa da ONU não receia competidores.

/…/ A fim de fazer diferença no oceano dos problemas haitianos, seria necessário um programa de ajuda maciça por mais de 20 anos. Infelizmente, a paciência e a generosidade dos países ricos, dos quais depende a ONU, tem pavio muito curto. Desde as intervenções dos fuzileiros navais americanos da época do “Big Stick”, de Theodore Roosevelt, as inúmeras interferências estrangeiras no Haiti acabaram por tornar-se mais parte do problema que da solução.

Sérgio Vieira de Mello foi a expressão mais cabal de uma vocação que ainda nem tem nome adequado. /…/ Sérgio nunca trabalhou para outra organização além da ONU. Nela ingressou apenas saído da universidade e percorreu a carreira perigosa da mais dura das escolas da ONU: o trabalho com os refugiados.

Lê-se às vezes que Sérgio era diplomata, e nada é mais enganoso. Diplomata vem de diploma, em grego, “documento dobrado ao meio”. Sem desapreço pela categoria a que pertenço, essa raiz etimológica é fiel reveladora da essência de profissão que, na maior parte do tempo, se cumpre por meio de documentos, comunicações escritas entre embaixadas e chancelarias, em ambientes civilizados.

Da mesma forma que o nosso Conselheiro Aires, a imensa maioria dos diplomatas jamais assinará tratados de aliança, de paz ou de guerra. Raros terão a experiência dos que zelam na ONU por campos de milhares de refugiados, dos que, em situações de perigo extremo, negociam a proteção de inocentes com guerrilheiros sanguinários e psicopatas genocidas.

É difícil encontrar uma estação da via-crúcis dos conflitos e tragédias do último quarto de século em que não se detecte a presença constante, a ação inteligente e eficaz desse brasileiro a quem ficamos a dever os êxitos de Kosovo /à época/ e de Timor. Não se trata apenas de obra de pacificação, mas do que e tão ou mais árduo do que por fim à guerra: a reinvenção, a recriação de um país novo.

Esse desafio de tamanha dificuldade nas condições do Iraque, necessitava-se combinar idealismo, destemor, com profissionalismo objetivo e agudo senso da realidade, o que incluía a obrigação incontornável de trabalhar com independência, mas sem antagonizar a potência ocupante. Ao fazê-lo, não se podia evitar tornar-se alvo potencial, risco mortal que Sérgio aceitou por não querer isolar-se do povo.

Um jornalista americano lembrou que, ao perguntarem a Kofi Annan por que, após o atentado de Bagdá, não se enviou ao Iraque um sucessor para Vieira de Mello, a resposta foi: “Porque eu só tinha um Sérgio”. Em outras palavras, Sérgio era único e ninguém mereceu tanto a bem-aventurança evangélica: “Abençoados os que constroem a paz porque serão chamados de filhos de Deus”.

Eventos

XI UNCTAD
A cidade de São Paulo será sede da XI Conferência Ministerial da UNCTAD, que pela primeira vez ocorrerá num país latino-americano.

O evento transcorrerá de 13 a 18 de junho, no Centro de Convenções do Anhembi. Em debate estarão temas como
“Estratégias de desenvolvimento numa economia globalizada”; “construção de capacidade produtiva e competição internacional .
“Parceiros do desenvolvimento” etc.

URBIS 2004
Feira e Congresso Internacional de Cidades, de 14 a 18 de junho, no Pavilhão de Exposições Expo Center Norte, em São Paulo.

Esta será a 3ª edição da URBIS que, desta feita, adotou o seguinte tema para discussão: “Cidades e regiões metropolitanas – estratégias para o desenvolvimento”.

IX ENERI
O IX Encontro Nacional dos Estudantes de Relações Internacionais ocorrerá de 13 a 16 de maio/04, em Florianópolis – Santa Catarina.

Paralelo ao ENERI, ocorrerá também a I Conferência Mundial de Relações Internacionais. Em debate, “Desenvolvimento & Segurança Internacional”.

Ainda estão previstos o II Encontro Nacional de Empresas Juniores de RI, bem como, a XVIII Reunião do CONERI.

Um grupo de acadêmicos de RI do Unicentro Belas Artes marcará presença, prestigiando os referidos eventos.

Dicas de leitura

Livros-texto: aquisições recentes

Confira abaixo a relação de alguns dos livros-texto recentemente adquiridos para nossa biblioteca, e que acrescerão o acervo de relações internacionais.

ALVES, J.A.L. Relações Internacionais e temas sociais: a década das conferências. Brasília: IBRI, 2001.

ARBEX JR. J. Guerra Fria: terror de Estado, política e cultura. São Paulo: Ed. Moderna, 1997.

CERVO, A. L. Relações Internacionais da América Latina: velhos e novos paradigmas. Brasília: IBRI, 2001.

FERREIRA, O. S. A crise da política externa: autonomia ou subordinação? Rio de Janeiro: Revan, 2001.

FRIEDMAN, T. O lexus e a oliveira: entendendo a globalização. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999.

GILPIN, R. A economia política das relações internacionais. Brasilia: UnB, 2002.

LESSA, A. C. A Construção da Europa: a última utopia das relações internacionais. Brasília: IBRI, 2003.

MARTINS, E.C.R. Relações Internacionais: cultura e poder. Brasília: IBRI, 2002.

MARTINS, E. C. R. (Org.). Relações Internacionais: visões do Brasil e da América Latina. Brasília: IBRI, 2003.

PIO, C. Relações Internacionais: economia política e globalização. Brasília: IBRI, 2002.

RENOUVIN, P. & DUROSELLE, J. B. Introducción a la historia de las relaciones internacionales. México: Fondo de Cultura Económica, 2000.

RICUPERO, R. Esperança e ação: a ONU e a busca de desenvolvimento mais justo – um depoimento pessoal. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

ROCHA, A.J.R. Relações Internacionais: teorias e agendas. Brasília: IBRI, 2002.

SARAIVA, J.F.S. (Org.). Relações Internacionais: dois séculos de história. Vols. I e II. Brasília: IBRI, 2002.

SENNES, R. U. Mudanças da política externa brasileira nos anos 80: uma potência média recém industrializada. Porto alegre: UFRGS, 2003.

VAZ. A. C. Cooperação, integração e processo negociador: a construção do Mercosul. Brasília: IBRI, 2002.

VIZENTINI, P.F. & FORTES, A. (Coord.). Relações Internacionais do Brasil: de Vargas a Lula. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2003.

Moldura de nações

Raio-X da Rússia

Nome Oficial: Federação Russa
Superfície: 17.075.400 Km2
Localização: Europa Oriental e Ásia
Principais Cidades: Moscou (capital do país), São Petersburgo, Nizhny Novgorod, Novosibirsk, Yekaterinburg, Samara, Voronezh.
Idioma Oficial: Russo
PIB (2001): US$ 369,0 bilhões. PIB (2002): US$ 385 bilhões.
PIB “per capita” (2002): US$ 2.650
Balança Comercial (2002): Exportações: US$ 107 bilhões; Importações: US$ 61 bilhões; superávit de US$ 46 bilhões.
Moeda: Rublo
Religião: Cristã Ortodoxa Russa (Patriarcado em Moscou)

Indicadores sócio-econômicos

População:145,200 milhões de habitantes.
Densidade demográfica (hab/Km2): 8,50
*Taxa de analfabetismo: 0,2%
*Mortalidade infantil (por mil nascidos vivos): 14,6
*Expectativa de vida ao nascer: 65,3 anos
Variação anual do índice de preços ao consumidor (%): 20,08 (2000); 15,7 (2001)
Reservas internacionais, exclusive ouro (US$ bilhões): 37,00 (2001), 54,27 (agosto/2003)
Reservas de Ouro e Divisas (US$ bilhões): 57,6 (julho/2003)
Dívida Externa Total (US$ bilhões): 115,4 (agosto/2003)
Investimentos Estrangeiros (US$ bilhões): 48,3 (agosto/2003)
Câmbio (RB / US$ – média): 30,31 (setembro/2003)
Inflação (2002): 14% (previsão de 2003: 10-12%)
Taxa de desemprego: 8,5% (2001), 8% (2002 – 5,7 milhões hoje em dia) da PEA.

(fontes: Min. do Desenvolvimento Econômico e Comércio da Rússia); e *FMI (Country Report, mai/2003).

Elementos Informativos Federação da Rússia

– O PIB russo, de US$ 385,0 bilhões (ano 2002), vem crescendo desde há mais de 4 anos.

– No ano 2002, a Rússia teve um superávit de 51 bilhões de dólares na Balança Comercial, em parte face à alta dos preços do petróleo, pois possui a 6a maior reserva mundial.

– O país vem amortizando pontualmente junto aos credores internacionais seus débitos, muitas vezes antecipadamente, sem recorrer a novos empréstimos.

– Seguindo os ritmos atuais, a totalidade da dívida externa russa poderá ser quitada até 2011.

– Em 2000, a economia russa cresceu 7,7%, 5,1% em 2001, e 4,5% em 2002, mais do que a maioria das potências mundiais, como EUA, Japão, Canadá, França, Alemanha e outros. O crescimento da produção industrial em 2002 foi de 3,7%, denotando a franca recuperação da economia russa, após a crise de agosto de 1998.
– O momento é INÉDITO para o desenvolvimento de relações entre Brasil e Rússia, não apenas face à estabilização política e econômica da Federação Russa, bem como pela aproximação política entre ambos.

– Foram firmados acordos operacionais de crédito entre o Banco do Brasil e os sete principais bancos russos.
– BNDES e Banco de Desenvolvimento e Comércio da Rússia estiveram em tratativas para assinatura de acordo em 2003.
– Foi descoberta uma das maiores reservas mundiais de petróleo no Mar Cáspio, boa parte em território russo; superávit russo deverá ser mantido.
– Moscou: lá existem dezenas de centros de exposições e 25 shopping-centers na capital russa. Até 2005, serão investidos US$ 7 bilhões na construção de novos centros comerciais e em infra-estrutura empresarial.

Ingresso da Rússia na OMC

A Rússia começou a negociar seu acesso à OMC no ano de 1995. Mudanças estão sendo promovidas para atender às exigências de modificar sua legislação de comércio exterior, revendo sua política tarifária (redução de taxas) e eliminando diversos subsídios e barreiras não-tarifárias que protegem o produtor russo. EUA, União Européia, o Japão e o Canadá já declararam o seu apoio político à admissão da Rússia.
O Presidente Putin e autoridades da área econômica estão programando o acesso do país à OMC na primeira metade de 2004. Para a Rússia, o ingresso na OMC é visto como sinal de ‘conversão’ e integração da economia local à economia de mercado mundial, e o seu acesso poderá ser agilizado por força de decisões políticas.

Acordos em execução entre Brasil e Rússia

Acordo de Cooperação na Área de Proteção da Saúde Animal;
Acordo de Cooperação na Área de Quarentena Vegetal;
Tratado sobre as Relações de Parceria;
Acordo de Cooperação no combate a receitas ilícitas;
Acordo de Cooperação Aduaneira (em linhas gerais, prevê o intercâmbio de informações entre os órgãos e instâncias administrativas responsáveis pelos setores alfandegários dos dois países quanto a métodos operacionais);
Acordo de Cooperação Técnico-Militar;
Acordo de Cooperação na área de política de concorrência.

(fonte: Ministério das Relações Exteriores do Brasil)

Comércio Exterior entre Brasil e Rússia em 2002

Total: US$ 1.680.167.849
Exportações Brasileiras: US$ 1.252.473.105
Importações Brasileiras: US$ 427.694.744
Saldo: US$ 824.778.361 (favorável ao Brasil)

(fonte: Secretaria de Comércio Exterior-SECEX)

Principais produtos negociados:

Exportações Brasileiras: Açúcar não-refinado, carnes (suína, bovina e avícola, fumo, café solúvel, alumina calcinada, soja e sub-produtos.

Importações Brasileiras: Fertilizantes (ortofosfato de amônio, cloreto de potássio, uréia e nitrato de amônio), óleos cru e diesel, cátodos de níquel, sardinhas e peixes congelados, rolamentos)

Projeções para crescimento até o final de 2004: US$ 3 bilhões

Produtos com perspectivas de incremento no comércio bilateral

Pauta de exportações brasileiras:
– Confecções Femininas
– Soja e Sub-produtos
_ Carne Bovina
– Calçados de Couro de alta qualidade
– Produtos e Material Cerâmico
– Esquadrias e Produtos de Madeira e Metal para edificação
– Maquinas e tornos de pequeno porte
– Partes, peças e utensílios para a indústria automobilística
– Produtos eletrônicos
– Minérios e Minerais não ferrosos
– Móveis de alta qualidade
– Frutas tropicais
– Cosméticos
– Aeronaves executivas (pequeno e médio porte)

Pauta de importações brasileiras:
– Genéricos farmacêuticos
– Titânio Metálico e suas manufaturas
– Moinho Triturador Inercial
– Carvão (Metalúrgico e Combustível)
– Coque de Carvão e de Petróleo
– Brocas e equipamentos auxiliares de transporte, e transmissão para mineração e portos
– Papel de Jornal
– Trilhos Ferroviários
– Fluorita (para siderurgia)
– Equipamentos de geração e transmissão de energia elétrica
– Aeronaves Militares e Cargueiras (de grande porte)

(Fonte: Câmara de Comércio, Indústria e Turismo Brasil-Rússia)

Recreio literário

São Paulo – Sotaques, cores e sabores
Por Marilene Garcia

Andando pelas ruas de São Paulo, digo não só pelas ruas dos bairros tradicionais e mais antigos, por toda a cidade, identifico-a como palco das misturas de povos, resultando sotaques, cores e sabores. Esta observação poderia até delinear um modelo de respeito às diversidades, muitas vezes não revelada claramente. É impactante ver tudo sobreposto e, ao mesmo tempo, é prazeroso.

São Paulo fala várias línguas e se comunica por meio delas com uma imensa massa de interlocutores. Tem esse sotaque e diversos sabores, com sua origem no seu jeito próprio de ser e de crescer, moldado pela convergência das diferenças que se fizeram presentes ao longo de sua história.

Aqui o diferente é natural, seja pelas comidas, músicas e expressões lingüísticas, pois tiveram de permanecer ou de se enquadrar nesta realidade latina, seja para matar a saudade do lugar estrangeiro, seja para fugir das dificuldades de outras terras brasileiras e lutar pela sobrevivência, esquecendo sofrimentos da terra de origem ou, simplesmente, para abraçar o novo lugar de morada.

Casamentos incomuns foram realizados neste lugar, gerando seus filhos, netos, formando inúmeras gerações que povoam hoje esta grande metrópole. Traços na fisionomia de sua gente saltam aos olhos daquele que isso desconhece: cabelos lisos, encaracolados e crespos, olhos claros e negros, faces rosadas, brancas, negras e morenas, baixos e altos mapeam a geografia humana e reforçam a sua disposição de se manter singular. São japonesas loiras, negras ruivas e morenas aloiradas. O tom da pele é propaganda positiva, não é defeito, é bonito.

Filhos de pedreiros que se tornaram engenheiros, filhos de alfaiates que se tornaram médicos, filhos de gente simples que trabalham em busca de uma meta, embalados por sonhos e pelas incertezas próprias dos cidadãos deste mundo, sacudidos por guerras de rua e guerras distantes, por disputas toscas e inerentes à civilização. Filhos de gente incomum, que vislumbram menos injustiças.

Nisseis com sobrenomes italianos, alemães com misturas de sangue índio, morenos e negros africanos regionalizados com avós espanhóis e portugueses e libaneses vizinhos de judeus modelam o retrato de respeito à diversidade cultural, nascida em ambiente de casa e refletida nas cores da cidade. Nem tudo é tão aberto, justo e nem equilibrado, há exageros, mesmo dentro dos limites da convivência, mas, sem dúvida, impera a mobilidade, a natureza de se movimentar e dar continuidade.

A diversidade de São Paulo contempla a preservação das expressões culturais e a abertura para a convivência e respeito às outras culturas. As condições de expressão desta diversidade ambientam-se na liberdade de expressão e de informação. Basta abrir um cardápio em um restaurante, para constatar que a convivência é pacífica e aceita, incondicionalmente, pelo paladar. O tratado de paz vem na forma de pratos diversos. No cardápio de São Paulo convivem pacificamente pizzas, cáficas, pastéis, sushis, sashimis, Apfelstrudel, esfirras, paellas, pastel de Belém, caipirinha e feijoada.

Transformada em capital da gastronomia, espelho da expressiva manutenção dessa diversidade, onde comer uma bacalhoada acompanhada, na sobremesa, por Apfelstrudel ou um creme de papaia com cassis, só reafirmam os hábitos incorporados, exportando estes sabores para outros lugares do país como marca paulistana.

É um gosto temperado pela mistura contínua que só esta cidade pôde fazer.

Parabéns, São Paulo, por ter-se feito e crescido assim.

Seja diferente!
Faça RI no Unicentro Belas Artes.

Expediente

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